Acredito que minha paixão e de incontáveis brasileiros pelo futebol americano esteja diretamente ligada às transmissões históricas que Luciano do Vale fazia pela Rede Bandeirantes nos tempos áureos do San Francisco 49rs de Joe Montana. Não tínhamos TV a cabo e a ESPN era uma realidade distante. Passados tantos anos, eis que me vi hoje, outra vez, com os olhos grudados na telinha para acompanhar a final do Super Bowl. Em campo Philadelphia Eagles x New England Patriots.
Não tenho como negar que sou Patriots desde criancinha, Hehehe (sou fruto do fenômeno de torcer por quem você viu ganhar mais em sua formação sobre o esporte). Talvez torça também pelo fato do Tom Brady ser o maior quaterback da história ou por ser casado com a Gisele Bündchen, o que o aproxima do Brasil. Por uma coisa ou outra acompanho com entusiasmo a campanha dessa franquia recordista de vitórias. São o que tem de melhor a algum tempo, sem dúvida. Contudo, tal qual no soccer ou no nosso futebol, nem sempre o melhor vence.
Em que pese tenha realizado a segunda melhor campanha em jardas da história da franquia (jardas são os metros em que é computada a tomada de territórios do jogo), o Patriots foi derrotado por 41 x 33. Parece muito, mas pra realidade do jogo não é. Um novo touchdown e uma jogada extra que não o tiro livre direto que dá somente mais um ponto poderia ter dado um resultado diferente à partida. Alguém poderia dizer que fiquei triste com a derrota, mas não seria verdade. Como desportista que sempre fui nunca fiquei assim por uma derrota lutada, vendida caro. Derrota que entristece é aquela sem luta. Não foi o caso. Como sempre digo, a César o que é de César. O Philadelphia Eagles mereceu a vitória e o Patriots a derrota. Por mais que o ataque funcionasse a defesa entregava o ouro e não por acaso em uma falha de proteção dela Tom Brady perdeu a bola em um momento chave do jogo.
Quem acompanhou o campeonato deste ano pode observar a consistência com que se apresentou o Philadelphia. Foi uma equipe aguerrida que só chegou à final com a marca de zebra por não ter podido contar na reta final com seu quarterback titular. Mesmo assim foi lá e venceu, desta feita sob a batuta de Nick Foles, o qual não somente foi brilhante na condução da equipe. Foi tão cirúrgico em sua participação que se tornou o MVP (melhor jogador) da partida. Uma honra para poucos. Não tive como não recordar meu próprio passado.
Em 1985 eu disputei pela primeira vez os Jogos Escolares Maranhenses na modalidade de Futebol de Salão. Arrebentei. Fui convocado para a Seleção Maranhense de 1986 para ser o titular da equipe, palavras do próprio treinador, professor Roberto Brito. Adoeci duas semanas antes do embarque para o Espírito Santo, Estado que sediaria os Jogos Escolares Brasileiros daquele ano. Nossa equipe, que era estrutura em mim no gol, meu amigo/irmão e parceiro de todas as horas Marlos Lamar numa ala, Alan Neto de fixo, Goiabeira na outra ala e Elson revezando com George no pivô não pode contar comigo. Coube ao meu substituto Nelson o protagonismo dos jogos. O Maranhão foi campeão brasileiro estudantil de futsal e Nelson o melhor goleiro estudantil daquele ano. No ano seguinte, 1987, tinhamos um time fantástico. Se Alan, Goiabeira, Elson e Geoge ficaram de fora pela idade, tinhamos Aldo, Jupira e o mago Denilson para substitui-los. Um conjunto espetacular. Machuquei no mesmo dia em que chegamos a Campo Grande, capital do Estado do Mato Grosso do Sul, sede dos jogos. A duras penas me recuperei de uma entorse de tornozelo para poder competir (um dia escreverei a respeito, haja vista ter sido, segundo dizem, uma recuperação impossível, exemplo de superação). Dos 7 (sete) jogos participei apenas de quatro e no quarto me machuquei pela última e definitivamente vez naquele torneio. Não fomos campeões, mas meu esforço, superação e lágrimas me garantiram ser, ainda assim, o melhor do torneio. Ironia do destino: tive a chance de ser por duas vezes o melhor goleiro do Brasil. Fui apenas uma e sem ser campeão. Até hoje acredito que a contusão ocorrida ainda no primeiro tempo nos tirou a vitória. Uma pena.
Tal qual em 1987 e logicamente guardadas as devidas proporções, hoje o melhor não venceu ou talvez o melhor de hoje tenha sido o Philadelphia Eagles e Nick Foles, o improvável quarterback que saiu do banco para se tornar o MVP do jogo.
De uma forma ou de outra, a história reserva para o New England Patriots de Rob Gronkowski e Danny Amendola o reconhecimento de melhor equipe da década e a Tom Brady o registro de ser, mesmo na derrota, o maior quarterback da história, um extraterrestre do nível de Jordan, Phelps, Federer ou quiçá de Pelé (pode parecer heresia mas seus números são igualmente espetaculares).
Como diz a máxima do nosso futebol (soccer para eles), nem sempre o melhor ganha e isso são coisas do futebol.
Ano que vem será diferente. Go patriots.