Quando eu decidi, há muitos anos atrás, que me tornaria advogado, nunca poderia imaginar que a profissão me reservaria momentos tão significativos quanto os que estou vivendo neste feriado em que se comemora a independência do Brasil e os 405 anos da minha querida São Luís, a quem prestei homenagem recentemente (São Luís do Maranhão: 405 anos de beleza e alegria).
Motivado pelo trabalho e pelo desejo de mudar a vida daqueles que estão sofrendo, me dirigi ao Município de Araioses, na divisa com o Piauí, aonde aproveitei para realizar um grande sonho que acalentava: conhecer o Delta das Américas.
Tenho com Araioses uma relação de 16 anos. Em 02 de agosto de 2001 eu deveria ter estado aqui para ministrar um seminário sobre tributação e a obrigatoriedade imposta pela Lei de Responsabilidade Fiscal para que os municípios instituíssem e cobracem os tributos de sua competência. No dia 01 de agosto descobrimos que minha mulher estava com pré-eclampsia e que minha primeira filha teria que nascer naquele mesmo dia. Minha participação foi transferida para o dia três. Vi minha filha nascer, mas não a vi deixar o hospital e nem a conduzi até a nossa casa, tarefa que coube a minha irmã e comadre Márcia.
Tanto tempo depois, cá me encontro outra vez para um compromisso profissional, mas dessa vez, graças ao feriado, pude ter comigo minha família. Glória a Deus. Saímos para conhecer o Delta das Américas sob a luz da lua cheia. Dormimos na Pousada Aires no Morro do Meio e combinamos com Raimundo, misto de hoteleiro, barqueiro, pescador, jogador e criador de cavalos de Prado, uma visita, durante o dia, a uma das praias do Delta.
Minha família pode testemunhar comigo mais uma demonstração da força da natureza e do poder de Deus. É belíssimo. Mesmo correndo o risco de parecer redundante, preciso gritar para o mundo ouvir que o meu Maranhão tem recantos dos mais belos da terra.
Gritar para que as autoridades possam ouvir que este pedaço de paraíso precisa do apoio do poder público para se tornar um grande destino turístico e para que todas as pessoas do mundo possam desfrutar de momentos de pura contemplação e interação com o trabalho de Deus, manifesto na mais fantástica obra da natureza. Para que se tenha uma idéia, a energia elétrica só chegou aqui a pouco tempo, graças ao Senador maranhense Edison Lobão que, enquanto Ministro das Minas e Energia, capitaneou o programa Luz para Todos (só no Maranhão foram instalados mais de 1 milhão e duzentos mil novos pontos de energia). Nas casas aonde antes se tinha energia por gerador e geladeira a diesel, hoje se tem a energia elétrica. Raimundo me disse que o Engenheiro chegou perguntando aonde ficava o povoado mais distante sem energia e que era por lá que seria iniciado a instalação dos pontos de energia. A ilha onde ficamos hospedados era justamente esse povoado mais distante.
A praia superou as expectativas. Piscinas de água cristalina refrescaram o calor e nos brindaram com belas fotos em um cenário paradisíaco entre dunas, a croa de areia e o mar.
Retornamos à pousada para o almoço e um breve descanso. Final de tarde uma nova surpresa. O encontro com os guarás, ave que nasce branca e que ganha cores avermelhadas nas penas devido ao crustáceo do qual se alimenta. Eles voam por grandes áreas para dormir numa mesma ilhota. Dentre tanto verde que se encontra em volta e árvores do mesmo tipo e padrão, eles pousam nessa pequena ilha, apenas em um de seus lados e de lá contemplam o por do sol, cuja imagem ilustra o começo deste ensaio. Uma imagem que jamais sairá da memória. Hoje testemunhamos, outra vez no Maranhão, a força do poder da criação. Volto pra casa pleno de vida e rogo a Deus que mais pessoas venham a esse lugar e conquistem essa paz de espírito. Gasta-se uma fortuna para viajar e conhecer as belezas de outros Estados e Países. Que pena. Mais pessoas precisam descobrir que o paraíso é aqui. Os Lençóis maranhenses e o Delta das Américas formam um conjunto de rara beleza e um maravilhoso ecossistema.
Não bastassem as belezas naturais, acabei por descobrir que Araioses produz, além de muito pescado, como o robalo e a pescada amarela, que constituem a base da culinária local, uma infinidade de outros alimentos oriundos do mar, como ostras, sururu e caranguejo-uça o qual, registre-se, abastece o mercado do Piauí e do Ceará com nada menos que 160 (cento e sessenta) mil unidades por mês, garantindo aos catadores uma renda diária de 100 (cem) reais por dia.
Francisco Bezerra
8 de setembro de 2017 at 22:30
Nosso orgulho desta vez extrapolou todos os limites. Parabéns pelo texto e tal como nós, também foi amor no primeiro olhar.
Sérgio Muniz
8 de setembro de 2017 at 22:34
Maravilhoso lugar. Obrigado