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A força que veio do campo

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A construção da estrada de ferro São Luís-Teresina fez aumentar o povoamento por onde ela passaria e com Carema não foi diferente. Tudo era muito difícil, seja pela ausência de boas estradas para chegar até lá, seja pela falta de energia elétrica. Mesmo assim, aos sábados, o pai do meu amigo Roberval Cordeiro, avô, portanto, de Thibério, Gugu e Paulinho, levava um boi para vender ali. Como nem todos tinham dinheiro para compras regulares, ele reservava as partes preferidas dos seus principais clientes, como seu Bidico e meu avô José Bonifácio e somente então abria as vendas para os demais interessados. Essa rotina fez nascer na minha família o hábito de se reunir nos domingos para degustar um cozidão reforçado com muitas verduras adquiridas na feira, a qual era feita sempre aos sábados.

 

Papai manteve essa tradição enquanto a saúde lhe permitiu esses festins da gula e para tanto sempre saía para a feira com o céu ainda escuro, muito cedo, sob o argumento de que as verduras estariam frescas e mais bonitas. Ele estava certo. Chegávamos na feira do João Paulo a tempo ainda de ver o descarregar das mercadorias. Lembro que sempre passávamos por um estivador enorme carregando os produtos. Ele vinha de longe pedindo passagem e quando algum distraído não atendia seu pedido ele pronunciava um bordão que ficou famoso naquele lugar: “Eita brasileiro macho. Sai da frente, merda”. Hehehe.

Lembro como se fosse hoje. Tínhamos as bancas de nossa preferência, como a de nonatinho que vendia tomates e fazia narração da venda simulando um microfone em uma garrafa de Coca-Cola, Dona Abigail que vendia mocotó e cozidão, etc. Confesso que nunca fui lá um grande adepto (nunca gostei de acordar durante a madrugada), mas ia sempre para ajudar a carregar as sacolas, para aprender a comprar e para ouvir as músicas sertanejas que tocavam na rádio AM do carro.

Passados muitos anos, tive a aportunidade de ouvir, pela primeira vez na rádio Difusora FM, Chitãozinho e Xororó cantando “Se Deus me ouvisse”. Não me contive e liguei para a rádio para dar os parabéns por aquela iniciativa. A qualidade do som da frequência modulada seria muito importante para a difusão do gênero no nosso Estado.

Tempos atrás, estava eu voltando para casa pela avenida litorânea em São Luís quando me deparei com um grande engarrafamento naquela via causado por uma aglomeração de pessoas. Ao me aproximar deles, visualizei Mariana, filha dos meus amigos Márlos Patrício e Lúcia e perguntei o que estava havendo. Com euforia ela me disse que era uma apresentação de sertanejo universitário da dupla maranhense Jhonatan e Jardel. Perguntei: quem eram eles? E ela respondeu: eles cantam igual a Victor e Leo. Perguntei outra vez: e quem é Victor e Leo? Ela sorriu e disse que era a maior dupla sertaneja do momento. Minha ignorância músical me fez procurar por essa dupla. Descobri que eles eram ótimos.

Victor e Leo estouraram para o Brasil com seu disco ao vivo e músicas como “fotos” e “borboletas” ganharam o gosto popular. O meu também. Passei a acompanhar a carreira deles e ontem pude vê-los de perto. A qualidade do seu repertório e seu carisma pessoal alegraram a noite de quem se dirigiu até a Tom Music para assisti-los. Foi um grande show.

 

Nesse país em que o agronegócio responde por quase 1/3 da nossa balança comercial, momentos como esse nos fazem lembrar da força do campo em nossas vidas. Saí de lá com o desejo de expressar o quanto gosto de tudo isso. Nada melhor que um genuíno Feijão Tropeiro para fechar esse turbilhão de boas recordações. Assim, fui preparar essa maravilha e agora divido com vocês minha versão desse magnífico prato. Em uma panela de pressão coloque para cozinhar o feijão, de preferência mulata gorda, na água com sal a gosto. 

Em uma frigideira grande bote para fritar pequenos cubos de toucinho de porco. Não precisa colocar nem óleo, nem azeite e nem manteiga ou margarina. O toucinho vai soltar naturalmente uma banha com a qual você preparará o prato. Quando os cubinhos fritarem você terá torresmo que deverá ser reservado. Na banha que ficará na panela você fritará linguiça  (pelo sabor acentuado eu uso linguiça palito defumada cortada em rodelas, mas pode ser calabresa, toscana ou outra de sua preferência. Reserve quando fritar. Em seguida, frite um pouco de charque cortada em cubinhos (lembre-se que a charque é salgada e deve ser colocada de molho antes para tirar o excesso de sal). Reserve. Se a banha estiver pouca, frite um pouco de bacon (ele também vai liberar banha) e também reserve.

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Nessa banha que restou frite um pouco de carne de sol cortada em cubos com cebola e doos dentes de alho picados. Após, reserve. Frite 5 (cinco) folhas de couve cortadas em tiras finas. Quando desidratar, reserve. Em seguida, frite quatro ovos com sal a gosto e depois também reserve. No saldo de banha e ovo frito, passe um pouco de farinha seca (branca). Acrescente arroz branco se tiver já pronto e quiser aproveitar, mas não é obrigatório. Em seguida coloque o feijão que já estará pronto, e todos os ingredientes que foram reservados. Misture bem e sirva quente. É de comer ajoelhado. Hehehe. 

1 Comment

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  1. Anônimo

    17 de setembro de 2017 at 20:29

    Adorei!. E esse arroz tá com cara de muito bom.👏👏👏👏

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Chorando na chuva

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Recordação.

Palavra que exprime memória de eventos passados e que, por algum motivo, ficam guardados no nosso subconsciente e que, em algum momento, se apresentam para nos fazer reviver bons momentos ou, quem sabe, apenas sentimentos bons que gostaríamos de reviver, se fizessem presentes outra vez.

Final de tarde, perdido na solidão de um instante, busquei no YouTube alguma música que me remetesse a momentos felizes e encontrei nos acordes iniciais de “Crying in The Rain” cantada pela banda norueguesa A-ha, a resposta para a minha busca.

Como em um passe de mágica, me veio à lembrança o comercial da Lacta sobre o chocolate Laka. O comercial mostrava um jovem imberbe, pré-adolescente talvez, indo ao encontro de sua namoradinha. Enquanto a aguardava e como ela demorava, acabou por comer o chocolate branco laka que havia levado para ela. Com a sua chegada, ele diz a ela: ” trouxe um laka para você “. Ela pergunta: “cadê?”. E ele, sem receio, lhe diz: ” tá aqui”, e lhe beija. Ela, feliz, diz em seguida: “Dá mais um pouquinho?”. Tudo tendo ao fundo essa icônica música. Um marco para a minha geração de nascidos no século XX. Imagino tantos quantos, nostálgicos como eu, se lembram desse momento singular.

O comercial, registre-se, foi produzido pela empresa W/Brasil, com a assinatura do publicitário Washington Olivetto, falecido recentemente em 2024. Considerado um marco da publicidade nacional, foi premiado com o “Leão de Ouro” em Cannes,  consoante nos foi gentilmente informado por Polyana Amaral em nosso Instagram @sergiommuniz.

Os tempos mudaram. O politicamente correto tomou conta do mundo. Talvez hoje surgisse até quem se posicionasse contra a exibição desse conteúdo. Muitos prefeririam mostrar jovens do mesmo sexo ou mesmo adultos se relacionando. Afinal, esse seria o politicamente correto de hoje. Prefiro o passado. Questão de opinião.

Contudo, em que pese a singularidade do comercial apresentar um inocente beijo otimizado por um excelente chocolate branco (mensagem transmitida com excelência) e por uma música de melodia espetacular, penso hoje, impulsionado pelas facilidades da modernidade que nos disponibiliza a tradução da letra no YouTube, que esta não espelha a intenção do comercial. Com efeito, a canção aponta para uma separação e não para a única proposta no comercial.

Crying in The Rain (chorando na chuva) é uma música composta por Howard Greenfield e pela grande Carole King (uma das maiores compositoras americanas) e originalmente gravada pela dupla The Everly Brothers.

Contudo, foi no início da década de 90 que ela fez enorme sucesso na versão da Banda A-ha. Consoante se apresenta a seguir, a música fala de alguém que já não tem consigo seu grande amor e que afirma que suas lágrimas serão ocultadas pela chuva. Ela não saberá que ele ainda a ama, mesmo só restando mágoas. Por isso ele chorará sua tristeza na chuva.

É certo que muitos seguiram o exemplo do comercial. Marcaram o encontro, levaram o chocolate e repetiram a fala e o gesto para se entregar no romântico beijo.

Lembro com saudade dos momentos parecidos que vivi. Ter podido acompanhar algo parecido com minha filha e meu filho do meio me faz acreditar que ainda é possível sonhar com um romance juvenil, daqueles de outrora, daqueles do “Me Dá um Beijo” de 1989.

Sei que muitos pais da minha geração estão vivendo tudo isso, talvez até mesmo enquanto escrevo estas breves linhas.

Sendo apropriada a música ou não, ela marcou uma geração, seja pela época em que foi composta e usada, seja por refletir a realidade posterior de tantos que, um dia, acreditaram no romantismo do momento. Creram que o amor seria para sempre.

De uma forma ou de outra, chorar sob a chuva pode ser ainda uma boa opção. Apaixonado, ou não.

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Homenagem

Eu só posso imaginar

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Hoje, 12 de agosto de 2024, tive meu primeiro contato com o filme I Can Only Imagine ou “Eu Só Posso Imaginar, o qual conta a história da relação conflituosa entre pai e filho, Arthur e Bart, vividos, respectivamente, por Dannis Quaid e J. Michael Finley. Resumidamente, Arthur é um pai opressor e agressivo que bate no filho e o desestimula a lutar pelos seus sonhos. O filho encontra na música a paz para os momentos de tristeza ou para abafar as discussões constantes entre seu pai e sua mãe. Mesmo sendo um promissor vocalista, Bart não consegue emplacar sua banda e decide, seguindo sugestão do seu agente, retornar para casa para resolver seus problemas e transformar sua mágoa em música. Mesmo descobrindo que seu pai agora se converteu após encontrar Jesus, Bart não consegue perdoá-lo e não se permite lhe dar uma segunda chance, somente vindo a fazê-lo depois de descobrir que seu pai era portador de câncer terminal, o que viria a lhe ceifar a vida pouco tempo depois de se reencontrarem como pai e filho no amor de Cristo. A música que dá nome ao filme, em que pese composta em homenagem ao seu pai Arthur, reflete o pensar do autor sobre como seria se relacionar pessoalmente com Jesus (ele ou seu pai), o que se constata pela tradução abaixo. Nela o autor afirma que

“Eu só posso imaginar como será Quando eu caminhar ao Teu lado

Eu só posso imaginar o que meus olhos verão Quando Teu rosto estiver diante de mim

Eu só posso imaginar, eu só posso imaginar

Cercado pela Tua glória, o que meu coração sentirá?

Eu dançarei para Ti, Jesus, ou, maravilhado, ficarei imóvel?

Eu ficarei de pé na Tua presença ou cairei de joelhos?”

Quisesse o autor de I can Only Imagine se dirigir ao seu pai carnal, melhor teria sido se o fizesse nas palavras de Fábio Júnior na inigualável música “Pai”.

Ouvir o louvor contido na lucubração “Eu só posso imaginar” (o autor imaginando como seria o encontro com Jesus), me reportou a uma lembrança que guardo com carinho e que envolve o cantor e compositor maranhense Helson Rodrigues. Sambista Boêmio em sua juventude, retornava ele de ônibus de uma roda de samba na praia quando ao passar em frente à Igreja de São Francisco de Assis no Bairro do São Francisco em São Luís do Maranhão, ouviu uma voz chamando-o para adentrar na igreja e conhecê-lo. Nunca mais saiu. Dentre tantas músicas que escreveu, “A Razão de Viver ” conta Jesus Cristo alcançando quem não queria ouví-lo. Está, portanto, em posição diametralmente oposta a I Can Only Imagine.

Dentre tantas relações conflituosas entre pais e filhos, chama atenção o fato de que, algumas vezes, se trata de um instrumento de elevação espiritual. Não há o desencarne enquanto não cumprir a missão do entendimento. Um alcançar da obra de Deus, tão bem descrito por Helson em sua obra. Fico imaginando o que se passa pela cabeça de uma mãe que acusa seu próprio fruto de práticas desonestas ou criminosas sabendo ser ele inocente, ou ainda de uma pessoa que vem a afirmar que seu ente próximo vive na lama e no lixo, para lhe diminuir, ou lhe atingir dizendo que o filho ouve música pelo mesmo motivo do personagem do filme. Ou ainda qualquer outra forma de atingir a sua psique atribuindo conduta dissociada da realidade.

Calúnias, difamações ou injúrias não poderiam jamais integrar uma relação familiar. Muito menos agressões físicas ou psicológica. É uma insanidade ou uma insensatez. Afinal, quem quer que alguém se destaque ou vença não lhe reduz a competitividade nem lhe deprime a alma. O dia desafiou reflexão sobre o tema. Concluí em Anderson Freire que, ao fim e ao cabo,  valorosa é a prece acalma o meu coração para os ofendidos .

A relação familiar precisa repousar na paz e nos ensinamentos de Cristo. Afinal, como disse o poeta: não adianta ir para a igreja rezar e fazer tudo errado. Entre o sonho de encontrar Jesus e a busca dele pelo resgate da sua ovelha, tem que existir o querer. Por ora, eu só posso imaginar…

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Homenagem

Reggae Roots, de ontem e hoje

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Das lembranças da minha infância, uma que sempre me foi muito presente foi ver, aos sábados e domingos, meu pai atravessar a Rua Amadeu Amaral, no Bairro do Ipase em São Luís (MA) e se sentar do lado oposto da calçada da nossa casa para pegar (sentir) um vento, jogar damas conosco ou ouvir as transmissões do seu rádio transglobe, modelo igual a esse que ilustra este texto. Esse tipo de rádio mudou a realidade de São Luís e deu a ela o epíteto de Jamaica Brasileira.

Foi através das ondas sonoras do rádio que os ludovicenses (como são conhecidas as pessoa nascida em São Luís do Maranhão), tiveram os primeiros contatos com uma música melodiosa oriunda do Caribe conhecida mundialmente como reggae.

A música jamaicana dominou o mundo sob os acordes da banda The Wailers e do vocal inigualável de Bob Marley.

A ele se seguiram os sucessos de Jimmy Cliff e Petter Tosh. Juntos eles formam a tríade dos gênios do reggae.

Muitos grandes nomes vieram depois deles, mas a marca indelével da sua obra embala até hoje os bailes mundo afora e por aqui não é diferente. A cada camisa vendida, estampada de verde e amarelo, contendo a foto de cada um deles,  se reafirma o gosto pela música que eles semearam e que deu tantos frutos. A cada melô de sucesso (terminologia adotada para as músicas), elas são reproduzidas nas grandes radiolas (equipamentos de reprodução de música) espalhadas Estado do Maranhão a fora como a Itamaraty de Pinto e Pintinho ou nas pequenas unidades reprodutoras, como os rádios de pilha, ou CDs, DVD, MP3 ou qualquer outra forma de disseminação moderna da sonoridade, tocadas por DJs icônicos como Natty Nayfson, embalando as emoções e os corpos que, por essas bandas, dançam agarradinhos numa explosão de puro sentimento.

Cresci ouvindo a tríade. Depois deles Eric Donaldson, Dona Marie, e tantos outros.
Por aqui, indiscutível o sucesso e a precedência da Tribo de Jah, seja com músicas autorais, seja em grandes versões como “Uma onda que passou”. Eles são divisores de águas nesse seguimento e são, sem nenhuma sombra de dúvidas, a maior e mais expressiva banda do roots reggae nacional.

 

A cena regueira chamava a atenção do Brasil. Daqui também saíram Mano Bantu, Banda Guetus e Mystical Roots (tinha meu primo Junior Echoes e Luciana Simões entre os vocais), cujos shows lotavam todos os locais em que se apresentavam e que teve oportunidade de se apresentar em uma cena da novela “Da cor do Pecado” da Rede Globo.

 

Diria eu que era o reggae universitário da época, fazendo uma analogia com o sertanejo e o forró universitário.

Hoje, meu ex-aluno Mister Kleber (sim, do reggae também saem profissionais do direito), João Baydoun, filho de Fauzi da Tribo de Jah e a Banda Radio98 que tem nos vocais meu primo Rafael e nos teclados o incrível Marcelo Rebelo comandam o cenário do reggae em São Luís e região. Suas performances não deixam nada a dever aos grandes momentos do passado e sinalizam para a perenização desse swing caribenho que conquista a todos quantos com ele mantém contato.

Dos nossos clubes de reggae tão bem retratados na música regueiros guerreiros da Tribo de Jah ao Bar do Nelson e tantos outros, as raízes regueiras adquiridas pelas onda do rádio transglobe se mantém firmes, multiplicando adeptos e seguidores.

Espero que, algum dia, a Mystical Roots possa se reunir outra vez para uma série de shows ao estilo revival ou até mesmo com músicas novas. Sua vibe está fazendo falta neste novo cenário musical que se apresenta. Acho que eles ainda não pararam pra observar o quanto contemporânea é a música que produziram alhures.

Para essa imensa massa regueira digo: que venham muitas outras pedras de responsa para embalar os corações apaixonados do Maranhão, do Brasil e do Mundo. Com sucessos de ontem e de hoje.

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