Homenagem
De Fernando Braga para Dr. Muniz, Reminiscências

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4 anos agoon
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Sérgio Muniz
Nos últimos meses, poucas coisas me tocaram tão fundo quanto a gentileza do meu amigo, advogado Guto Guterres, em me enviar o texto que reproduzo abaixo de autoria do laureado escritor maranhense e imortal da Academia Maranhense de Letras Fernando Braga. Nele, entre recordações, referências históricas e acredito eu, prospecções próprias da genialidade do escritor, referencia personagens de sua convivência ao longo dos anos, dentre os quais meu amado pai Antonio José Muniz.
Confesso que já me tinha por orgulhoso em ter tido a oportunidade de acompanhar de perto sua trajetória, esta já retratada aqui em “o menino da ferrovia ” e “Ao sagrado coração de Jesus “, dentre outros. Muito mais ainda por ter tido também a oportunidade de me decantar com “Éramos Felizes e não Sabíamos ” do imortal Bernardo Coelho de Almeida, tio de minha amiga/irmã Mônica Marletti Almeida, em que o autor lhe atribui o epíteto de “maior técnico em administração ” que ele teve o prazer de conhecer. O que para muitos já seria o bastante, até impensável, me veio hoje como um arrebatamento supremo, considerando a espontaneidade do registro e o momento delicado por que passa um dos destinatários da homenagem.
Para quem ainda não sabe, meu pai luta, há dois meses completos em 09/10/2021, contra uma infecção surgida cerca de seis meses atrás em decorrência de uma perfuração em seu intestino causada por uma espinha de peixe. Internado a dois meses em uma UTI do hospital UDI, ele trabalha contra uma infecção no músculo Psoas e contra uma espondilodiscite, um outro processo infeccioso que se estabeleceu em sua coluna em decorrência de uma fratura na altura das vértebras l2 e l3. Debilitado, mas lúcido, tenho certeza que será tomado pela emoção tanto quanto eu fui, talvez até mais, pelo reconhecimento da trajetória, do trabalho empreendido pelo nosso Estado e pelo legado que incontáveis puderam usufruir.
Fui testemunha ocular e auditiva do embrionamento e execução de um planejamento de transformação do nosso Estado, tornado real que foi à contemplação dos avanços obtidos, negados às escancaras pelos órgãos de comunicação negacionistas alimentados pela ambição de ocupação de espaços. Somente quem viveu o início da década de sessenta pode testemunhar, sem amores, como era o nosso Estado e em que se tornou. Hoje vivemos sob o jugo do encobertamento da história e da afirmação do erro para justificar um governo comunista que muito prometeu e pouco fez, fruto de uma obsessão pela ascensão nacional através do Twitter em detrimento do trabalho positivo em favor de quem o elegeu. Milhões gastos em comunicação. Que saudade dos grandes governadores de outrora que tinham trabalho e obras estruturantes para mostrar.
A você, Fernando Braga, agradeço pela gentileza do registro e por trazer ao conhecimento do nosso Estado e do nosso País, a figura ímpar de Antonio José Muniz, um maranhense de Carema, Santa Rita, Maranhão, que estudou em Rosário no Colégio Monsenhor Dourado, no Liceu Maranhense, na Universidade Federal do Maranhão, todas escolas públicas, e que, pela força de sua dedicação aos estudos, ajudou a fazer do Maranhão o Estado de oportunidades que é hoje. Feliz de quem pode deixar um legado para a posteridade. As lágrimas de hoje são o reflexo da emoção e do agradecimento pelo seu texto. Em nome de nossa família lhe agradeço penhoradamente.
“Conversas Vadias
Lembranças que já vão longe…*
Estes lances aqui narrados, não aconteciam apenas em frescas madrugadas, mas no dia-a-dia de São Luís, cidade que “nunca será vencida, nem nos combates por armas, nem na nobreza por atos”, como nos versos de Gonçalves Dias, o nosso poeta maior; onde a aurora é saudada pelos tambores de Mina e de Crioula; e onde se “servem ótimos crepúsculos”, segundo o gosto poético e boêmio do poeta Lago Burnet.
Aquele que ali passa a dirigir seu carro, é de fato e de direito um cidadão fidalgo, é o Dr. Joaquim Sales de Oliveira Itapary Filho, a pitar seu cachimbo, e a soltar bem na curva do Centro Caixeiral com a Rua de Nazaré e Odylo, um rolo de fumaça que vai deixando na algaravia poética do bar e restaurante ‘Aliança’, um cheiro inglês de fumo achocolatado, sem imaginar que um dia viria a escrever ‘Hitler no Maranhão ou o Monstro de Guimarães’, um dos grandes livros da ficção brasileira e ‘Armário de palavras’, uma coletânea de crônicas, ricas pelo conteúdo, pelos temas e pela elegância do estilo.
No Bar e restaurante ‘Aliança’, a figura sempiterna e querida do seu proprietário, o lusitano António Tavares, com a calva luzidia e um lápis seguro à orelha, a nos contar proezas acontecidas em Vale de Cambra, sua bela cidade no distrito de Aveiro, Portugal, aonde um dia tive a oportunidade de comer uma ‘uma vitela da Gralheira’, regada a um bom tinto da região; punha-se, também, ele, o António, atento às conversas vindas das mesas onde se assentavam os jornalistas e poetas José Chagas, Nauro Machado, Agnor Lincoln da Costa e Amaral Raposo, enquanto na calçada passa e repassa, de quando em vez, o advogado Clineu Coelho de Sousa e o irrequieto Arimathéa Ataíde, ambos móveis e utensílios da bem querença da Cidade. Aquele canto, como se diz em São Luís, da Rua de Nazaré e Odylo, com a da Rua da Palma, é uma ‘via crucies’ de jornalistas, radialistas, políticos e mais uma gama de gente que por ali trafega em seus afazeres diários, ou simplesmente para ouvirem as reivindicações sociais do escritor e poeta Nascimento Moraes Filho [José] que, em um dos ângulos da praça, estabeleceu seu ‘Beco do Protesto’ de onde braveja com sua voz altitonante, contra os absurdos praticados ao meio ambiente por uma multinacional, instalada às margens do Bacanga…E Zé Moraes, como era carinhosamente chamado, tinha cacife para fazê-lo, vez que é o autor imortal de ‘O Clamor da Hora Presente’, desabrolhado no país inteiro, com endosso da grande crítica brasileira, e do discernimento estético de Otto Maria Carpeaux, como um grito em defesa dos menos aquinhoados na vida. E as pessoas ali se multiplicavam para ouvirem os protestos e trocarem ideias com o poeta.
De repente, a atravessar a pracinha Benedito Leite, lá vai o Dr. Antônio José Muniz, requintadamente vestido, em direção à Avenida Pedro II, sobre o qual não deixarei a primazia para o querido e saudoso Bernardo Coelho de Almeida de falar, somente ele, em seu livro ‘Éramos Felizes e não Sabíamos,’ das qualidades funcionais dessa queridíssima figura que é, sem dúvida nenhuma, o nosso amigo e companheiro Muniz, como é conhecido pelos íntimos e pela torcida do Flamengo e do Moto Clube, times de seu coração.
Sem muitas aprazas, confesso que pelas minhas andanças funcionais em gabinetes e assessorias que se fizeram pedaços de minha história, onde tive a oportunidade de cruzar com muita gente boa de serviço e competência funcional, o que de alguma forma me proporciona condições de aferição, apraz-me dizer aqui, de corpo presente, sem receio de erro, que ninguém encontrei “melhor de serviço e de tomada de decisão” do que meu amigo Antônio José Muniz, com quem tive a oportunidade e a alegria de trabalhar no gabinete de uma Secretaria de Estado, em São Luís, quando à disposição, a tais préstimos, mesmo por pouquíssimo tempo, foi o suficiente para endossar evm gênero, número e grau o que diz textualmente Bernardo Coelho de Almeida, “ser Muniz o funcionário público de maior competência que já vira por toda sua vida”. E eu também!
Aproveito o gancho de ‘Éramos Felizes e não Sabíamos’, onde Bernardo Almeida, com sua elegância ao escrever, aponta um homem que passa pela rua trajando terno de linho branco e levando à destra, uma pequena malinha… Era o médico pediatra João Mohana, recém-chegado da Universidade da Bahia, sempre a pé, que iria com certeza atender alguma criança, sua paciente… Eu, por minha vez, o acompanho e o vejo [ou o via], sem mais o terno branco e a pequena malinha de médico, mas agora [algum tempo depois], chegado do Seminário Maior de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, a trajar calças pretas e blusa cáqui de mangas compridas, portando uma pasta, talvez com originais de livros, anotações de pesquisas e tarefas eclesiásticas, já que é [ou foi] Vigário Geral da Igreja da Sé. Tenho muitas saudades de João Mohana, um intelectual de finíssima estirpe, autor imortal de ‘Maria tempestade’ e de ‘Abrahão e Sara’, além de ser um dedicado levita de Deus! Aquel’outro que ali vai, é o Engenheiro e Deputado Federal Domingos Freitas Diniz, o ‘Dominguinhos’ para os mais íntimos, querido amigo, oposicionista ferrenho e um grande parlamentar, que por querelas políticas, como sempre, encontra-se às voltas com uma confusão com Sarney… Parece que o TRE fez despachar, por estas tardes, um ’sursis’ a seu favor… E os curiosos na Praça João Lisboa o rodeiam à cata de novidades…
Enquanto isso, uma pequena aglomeração se forma na porta do ‘Bar do Castro’, era o jornalista Erasmo Dias engalfinhado na porrada com o artista plástico Antônio Almeida, sob às vistas gozadoras de populares; e o amontoado de curiosos crescia com a saída da vesperal, do ‘Teatro Artur Azevedo’, arrendado pelo ‘Zecão’ Dualibe para funcionar também como cinema; as senhoras e senhoritas que deparavam com aquela cena se assustavam, a se apressarem horrorizadas, com as mãos nos rostos; enquanto Erasmo, apenas em cuecas, porque as calças lh’as tinham caído no desespero da briga, apelava, aos gritos, para dentro do bar, onde estava no Caixa, o temperamental ‘Manelão’, filho do senhor Leôncio Castro, cônsul de Espanha no Maranhão e proprietário, esta bela locução gramatical: “Maneco, vem cá depressa suspender minhas calças que eu detesto o ridículo”, apelo pelo qual o nosso amigo e tolerante ‘Manelão’ respondia na mesma velocidade ritmada:
“Erasmo, vai pra puta que te pariu!”
E a cena de pugilato só terminou quando surgiu na esquina da Faculdade de Direito, o porte elegante e respeitável do Dr. Djalma Marques, cuja figura, mesmo de longe, fez tremer os arruaceiros, agora, a dependerem da ajuda dos amigos ‘Carroca’, ‘Luis 40’ e Zé Viana, que jogavam sinuca no ‘bar do Henrique Gago’, ali apegado, que correram para desapartá-los, enquanto o jornalista e poeta Salomão Rovedo, como um procurador romano, gritava a plenos pulmões: “Ao vencedor as batatas!”
Vivia-se intensamente! o Éramos felizes e… Não sei se sabíamos! Tínhamos, talvez, consciência de que éramos… E como vivíamos… Entretanto, Sérgio Brito afirmava que “tínhamos convicção de que éramos…” Não havia enganos entre os céus das três praças políticas, literárias e boêmias, a João Lisboa, o Largo do Carmo e a Benedito Leite, trinas na forma, no gesto e na grandeza.
Hoje nada mais há, porque existe uma outra cidade depois da ponte, bem ali onde o Rio Anil deságua no boqueirão de São Marcos; e a cidade velha, chamada de ‘Centro Histórico’, continua, agora revitalizada, mas sozinha, com as ‘Mangudas dos Remédios’, com as visagens da ‘Carruagem de Donana Jansen’ e com os sortilégios da velha Serpente que rodeia a Ilha.
Por favor, não perguntem por ninguém, porque, â salva de poucos, morreram todos, dizem os cadeados nas cancelas!”
———————-
*Fernando Braga, in ‘Conversas vadias’ [Toda prosa], antologia de textos do autor. Ilustrações: Largo do Carmo e praças João Lisboa e Benedito Leite.

Em 2017 tive a oportunidade de escrever o texto “Ao Sagrado Coração de Jesus “, o qual viria a atualizar em 2019. Nele narro como se deu o surgimento do festejo de mesmo nome que é realizado em Carema todo mês de julho. Dizia eu àquela época:
“Dos oito filhos que tiveram (José Bonifácio e Hormígida), quatro já haviam nascido com grande dificuldade e muitas dores. Eram eles Sebastiana (Cecé), José Carlos, Theresinha de Jesus e Benedita (Bindoca). Após engravidar do quinto filho em 1937, D. Hormígida se entregou de vez à fé no Sagrado Coração de Jesus e fez a promessa de que se tivesse um parto normal e sem grandes dores, todos os anos lhe renderia homenagem mandando celebrar uma missa na capela que haveria de mandar construir e fariam uma grande Festa. Suas preces foram atendidas. O bebê, que recebeu o nome de José Ribamar, nasceu em 27 de julho de 1938 de um parto tranquilo, assim como todos os outros que vieram depois: José Bonifácio Filho (Zequinha Buranga), Raimunda (Dica) e Antonio José (Tote). Começava assim uma tradição que em 2019 ( quando atualizo este texto escrito em 2017) alcança 80 (oitenta anos) anos. Sempre no último sábado do mês de julho o Povoado Carema, edificado às margens da Ferrovia São Luís-Teresina, no município maranhense de Santa Rita, recebe o maior evento religioso da região, o festejo em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus. Sim, neste ano a criança cujo nascimento ensejou a promessa, Ribamar Muniz, faz oitenta e um anos e o festejo oitenta, recaindo o último sábado de julho desta feita na data do seu aniversário.”
Ribamar cresceu. Tinha uma deficiência visual que lhe fez usar óculos desde muito cedo, o que acabou por lhe render o apelido que o acompanhou por toda a vida: Ribamar quatro olho.
Sempre muito comunicativo, mas de jeitinho manso, conquistava a todos com seu sorriso largo. Tinha muitos amigos e em decorrência dessas amizades, muitos compadres. Sempre me impressionava a quantidade de pessoas que se aproximavam dele e o cumprimentavam chamando-o de compadre.
Me acostumei a vê-lo andando de um lado para outro, de bicicleta ou, depois, de motocicleta, meio de transporte que ele tanto apreciava. Visionário, montou um comércio no bairro céu azul, entre Carema e a Sede de Santa Rita, consciente de que ali prosperaria, haja vista que seria natural o crescimento da cidade ao longo da Avenida General Rivas. Inúmeras vezes o via sentado no balcão de madeira aguardando seus clientes e amigos.
Sua enorme popularidade lhe rendeu vários mandatos de Vereador, tendo se tornado o decano da Câmara Municipal.
Neste ano de 2025, ele completaria 87 (oitenta e sete anos) e a data recairia no último final de semana de julho, por ocasião do festejo do Sagrado Coração de Jesus, evento criado em homenagem ao Pai pelo nascimento de um filho chamado José.
Na data de ontem, 18 de abril de 2025, ele descansou. Coincidentemente no mesmo dia em que Jesus Cristo entregou o seu espírito ao criador pela remissão dos pecados da humanidade.
Abençoada foi vovó Hormígida com teu nascimento. Abençoado foste tu, Ribamar, no momento do teu descanso. Foste grande durante a vida, muito maior na hora da morte. Agora estás do outro lado do caminho, de onde ajudarás a encaminhar os teus.
Siga a luz, meu tio. Santa Rita jamais esquecerá José Ribamar Muniz, o Ribamar quatro olho, o filho da promessa.

Dizem que quando alguém gosta de resolver os problemas dos outros ele se torna advogado. Acredito que seja verdade. Não me recordo de outro motivo que me tenha trazido até aqui. Cada vez que presenciava uma injustiça, lá estava eu partindo em socorro.
Me formei Bacharel em Direito em 1993 e logo em seguida ingressei na Ordem dos Advogados do Brasil. Ano seguinte, partia eu para Brasília acalentando o sonho de melhor me qualificar para exercer a profissão que me escolheu. Sim, eu poderia ter sido jogador de futebol, médico, engenheiro, arquiteto, enfim, o que quisesse, mas desde muito cedo eu sentia que algo me dirigia para a advocacia e continuo hoje sendo advogado. Contudo, foi no Planalto Central que encontrei, além da qualificação profissional, um amor incondicional pelo mar. Ali descobri uma música dos poetas Nonato Buzar e Paulinho Tapajós (o mesmo autor de “andanças”, imortalizada na voz de Beth Carvalho) chamada Olho D’água, cantada com excelência pela maranhense Alcione.
Me acostumei a ouvir essa música sempre que saia do Olho d’água onde morava e hoje outra vez moro, seguindo pela Avenida Litorânea, cartão postal da nossa cidade São Luís do Maranhão. Na proa, a esperança de vencer na vida; na popa uma retaguarda que me garantia lutar pelos meus sonhos; a boreste, na linha do horizonte do mar do Maranhão, os navios que me acostumei a ver. Incrível como não se percebe a importância deles para o mundo. O transporte marítimo e o ferroviário são fundamentais para a economia mundial, dado seu baixo custo (e pensar que o Maranhão possui um modal completo formado por estradas, aeroporto internacional, ferrovias e um dos portos mais profundo do mundo, o Porto do Itaqui, sem contar o centro de lançamento de foguetes de Alcântara. Com tudo isso e mais terras férteis, índice pluviométrico alto e regular, segundo maior rebanho bovino do Nordeste, somos um dos Estados mais pobres do Brasil. Como pode?
Voltando ao mar, aos navios e aos portos, eles são responsáveis pela maior quantidade de carga deslocada no mundo. Em que pese o porto de Xangai, na China, Roterdã na Holanda e Itaqui, no Maranhão, serem aqueles que recebem os maiores graneleiros do mundo, apenas Xangai e Roterdã figuram entre os 10 (dez) maiores e mais movimentados (sete deles ficam na China, sendo o maior o de Xangai, um na Coreia do Sul, outro em Roterdã, na Holanda, e o outro em Singapura). O Porto do Itaqui figura entre os 10 maiores do Brasil.
A importância desse segmento para a economia mundial é enorme. Remonta séculos quando os fenícios (hoje libaneses) dominavam o comércio marítimo. Envolvidos diretamente na viabilização desse tipo de navegação estão a marinha mercante, a praticagem e os rebocadores, sem contar incontáveis trabalhadores que, com sua atividade operacional, fazem a roda girar. São bilhões de dólares envolvidos e milhões a cada operação.
De importância singular nesse contexto, a marinha mercante é o ramo civil da marinha que atua no comércio marítimo, conduzindo pessoas e cargas em navios de carga, navios-tanque e navios de cruzeiro. A praticagem é responsável pela condução dos navios até o porto. Eles figuram como “agentes do Estado” responsáveis por conduzir as embarcações e as cargas, em segurança, pelos canais, até a atracação nos portos e depois sua condução até mar aberto. Seja num porto fluvial ou marítimo em que atraquem grandes embarcações, ali estará um prático. Sem eles o navio não atraca. Por fim, os rebocadores atuam puxando (rebocando) os navios e auxiliando na sua atracação. A responsabilidade deles nesse processo é surreal e não por acaso, ascender à condição de Prático, demanda anos de preparação, fluência em línguas e muita determinação.
Meu filho do meio, Sérgio Murilo Filho, está iniciando o segundo ano do ensino médio. Prestou o ENEM como treinier em 2024, se saindo muito bem para uma primeira experiência. Atingiu 940 na redação e obteve quase 700 pontos nos demais conjuntos de prova. Está, portanto, no caminho certo. A fase, hoje, é de conhecer profissões e melhorar os resultados das provas.
Muitos anos atrás, conheci e me tornei amigo de um marinheiro mercante que tinha adquirido uma casa próximo da minha em um condomínio fechado aqui de São Luís. Nas nossas conversas ele me revelou o sonho de, algum dia, fazer o concurso para prático. Nos conhecemos em 2004. Desde os idos de 95/96 ele tinha ingressado na marinha mercante, já havia viajado parte do mundo quando, em 2008, aconteceu o concurso e ele foi aprovado. Se preparou por cerca de 13 anos para um concurso que não tinha data para acontecer. Ele é um dos 29 (vinte e nove) que integram a APEM (Associação dos Práticos do Estado do Maranhão), uma instituição que além de congregar os profissionais da área, ainda desempenha um relevante papel social junto às comunidades carentes.
Esta semana meu amigo recebeu a mim, minha esposa e meu filho para uma explanação sobre a sua importantíssima profissão. Ficamos maravilhados com a exposição, a importância da profissão, com a estrutura da Associação e a qualificação dos profissionais que a compõem. Posso testemunhar, sem medo de errar, que o Maranhão e o Brasil possuem um quadro de práticos dos melhores disponíveis no mercado, os quais se mantém atualizadissimos, dentre outras coisas, através do simulador de operação de praticagem, dos mais modernos existentes no mundo. Um orgulho de ver.
Aos membros da APEM nosso muito obrigado pela recepção e orientação. Quanto a você, amigo querido, faltam palavras para agradecer. Um dia, o prático Almir se dispôs a tirar suas dúvidas e lhe permitiu sonhar. Você correu atrás do sonho e o alcançou. Obrigado por nos apontar o norte, a proa de um novo amanhã. Espero, algum dia, poder retribuir, palestrando para sua filha sobre a minha profissão.
Hoje posso afirmar, sem a menor dúvida, que para movimentar a economia do mundo, para um País crescer, não adianta complicar. Para desenvolver, navegar é preciso.

“Quem me dera ao menos uma vez ter de volta todo o ouro que entreguei a quem conseguiu me convencer que era prova de amizade se alguém levasse embora até o que eu não tinha”.
Em que pese a estrofe inicial de índios, música icônica da Banda brasileira Legião Urbana, aponte para uma situação de arrependimento que teria ocorrido por ocasião do descobrimento (fato nunca reconhecido), melhor seria se refletisse uma insurgência contra o domínio a partir de então imposto, verdugo da liberdade vivida. Sentença de submissão consequente. Não viveríamos, em tese, sob o jugo da indicação da força pela ocupação de posição.
Lembro que nos meus estudos secundaristas, tínhamos Tupi, Tabajara, Guarani, e outras tribos guerreiras, chamadas Timbiras. Quisera tupã que a recepção dos visitantes não fosse apresentada em gentileza, mas em resistência. Talvez assim não se deixassem aqui os bandidos e condenados, mas homens honrados para lutar pela terra, em vez de negociantes, embrião das negociatas de hoje.
Em Y juca pirama (aquele que deve morrer), Gonçalves Dias narra a história do valoroso guerreiro Tupi que , temente pela morte do pai cego, pleiteia pela sobrevivência, para dele cuidar. É rejeitado ao sacrifício por ser considerado indigno ante sua fraqueza. Retornando ao convívio paterno, este os faz retornar aos Timbiras, pois a tradição do vencido era servir de pasto aos vencedores. Eis que célebre se torna o trecho:
«”Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de via Aimorés.
“Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
“Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
“Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas com asco e terror!
“Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.
“Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d’argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.”
Mostra de valor na derrota se apresenta. Aquele que tomba, em seu canto de morte, suas glórias apresenta, para, com satisfação, de repasto se revista.
Já não se tem mais honra. A parvidez dos atos alcançam aplausos, mesmo que ocultos em promessas vis de lealdade.
Ao longo dos últimos anos, vi deputados estaduais sendo mantidos a pão e água e quando são tratados à base de vinho e caviar, mostram sua essência vassala, sindrômica, leal a quem os oprimiu. Síntese de coronelismo, enxada e voto, evolução, ou não?
Numa grita de – “eu estou aqui” – por interpostas pessoas ( quem já deveria ter entendido que a página virou, parece que não entendeu), se gravou uma das mais deploráveis cenas do filme político do Maranhão (e ainda se acha quem aplauda tamanho descalabro).
Se não fosse trágico, seria cômico.
A reunião na Presidência com a presença de parte dos oposicionistas, demonstrou que não existe limite pra desfaçatez. A presença parda do lado negro da força se mostrou entre saias e calças, deixando claro que o “ou dá ou desce” e o “deixa que aqui eu garanto” estão longe do obrigado por lutar comigo.
Findo o certame, venceu o texto e o contexto. Se firme no compromisso, encontraram no texto escrito a solução para o conflito. Venceu quem tinha contexto.
No final, ainda que atingida pela luta pelo poder, coube a quem de direito balbuciar a palavra final: venci.
Rememorando o canto indigenista, diria: Alarma! alarma! – O velho pára!
O grito que escutou é voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
Noutra quadra melhor. – Alarma! alarma! Esse momento só vale a pagar-lhe. Os tão compridos trances, as angústias,
Que o frio coração lhe atormentaram
De guerreiro e de pai: – vale, e de sobra.
Ele que em tanta dor se contivera,
Tomado pelo súbito contraste,
Desfaz-se agora em pranto copioso,
Que o exaurido coração remoça.
A taba se alborota, os golpes descem,
Gritos, imprecações profundas soam,
Emaranhada a multidão braveja,
Revolve-se, enovela-se confusa,
E mais revolta em mor furor se acende.
E os sons dos golpes que incessantes fervem,
Vozes, gemidos, estertor de morte
Vão longe pelas ermas serranias
Da humana tempestade propagando
Quantas vagas de povo enfurecido
Contra um rochedo vivo se quebravam.
Era ele, o Tupi; nem fora justo
Que a fama dos Tupis – o nome, a glória,
Aturado labor de tantos anos,
Derradeiro brasão da raça extinta,
De um jacto e por um só se aniquilasse.
Basta! Clama o chefe dos Timbiras,
Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças. –
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
“Este, sim, que é meu filho muito amado!
Lutaste a derradeira batalha. Não sucumbiste aos verdugos timbiras e nem ao lado negro da força.
Prevaleceste, Iracema. Guerreira. Certamente descendente de uma nobre tribo. Guerreira da tribo Tupi.
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