As décadas de 30 a 50 foram marcadas pela ascensão e queda de uma figura que tinha tudo para ser apenas a sombra do seu líder, mas que devido à sua cor negra e grande estatura, entrou para as manchetes como o Anjo Negro de Vargas, haja vista comandar a guarda pessoal do Presidente e por ter-lhe salvado a vida quando de um evento político em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, após se lançar à frente de um atirador e receber um tiro que atingiria Getúlio. A guarda pessoal, criada por recomendação de um irmão do Presidente, Benjamim Vargas, o Beijo Vargas, foi entregue ao comando de Gregório Fortunato, amigo fiel desde a infância e responsável pelo recrutamento de gaúchos fiéis ao Chefe Maior do País. Pela proximidade ao protegido que a função propiciava, Gregório se tornou figura exponencial sem a qual ninguém chegava ao Presidente, fosse do povo, políticos ou empresários. De homem humilde filho de escravos alforriados tornou-se rico, contudo há quem diga que era apenas testa de ferro do seu amigo/irmão Beijo Vargas.

Quis o destino que ante às pressões políticas da época e às quase diárias denúncias formuladas pelo jornalista Carlos Lacerda, uma composição surgisse para silenciar o jornalista, sendo o Anjo Negro envolvido de tal forma na artimanha que acabou por ser responsabilizado como mandante do atentado ocorrido em agosto de 1954 contra Lacerda e que acabou por vitimar um major da Aeronáutica que lhe fazia a segurança pessoal. A trama teria sido orquestrada pelo filho de Vargas e alguns amigos seus juntamente com Beijo Vargas, o querido e influente irmão do Presidente. Mesmo não tendo participação direta no crime, Gregório Fortunato foi acusado e condenado a 33 (trinta e três) anos de prisão, os quais foram reduzidos inicialmente a 20 (vinte) anos pelo Presidente Juscelino Kubitschek e depois a 15 (quinze) anos pelo Presidente João Goulart, coincidentemente ambos vítimas de perseguições provenientes de Militares. Dias depois do atentado da Rua Toneleros, após se recusar a renunciar outra vez e submetido a grande pressão, Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no peito, cumprindo a promessa de só sair morto do Palácio do Catete e, consoante sua carta testamento, saindo da vida para entrar para história.

Guardadas as devidas proporções, temos no Maranhão um Governador acuado ante às quase diárias divulgações de corrupção no seu Governo, notadamente relacionadas à saúde, aos aluguéis camaradas, às apreensões e venda de veículos com débitos fiscais, etc; na posição do Gregório Fortunato temos o enrolado Secretário de Segurança Pública Jefferson Portela, acusado de coagir uma testemunha para que acusasse o ex-secretário de segurança e hoje Deputado Estadual Raimundo Cutrim, seu desafeto pessoal, de integrar uma organização criminosa voltada para o contrabando juntamente com um delegado de polícia e vários policiais; também de ser o responsável, juntamente com o Governador, de determinar a identificação de opositores do Governo para fins eleitorais, o que configura abuso vedado por lei (fato divulgado nacionalmente, hoje sob investigação do Ministério Público Eleitoral e que fomentou um pedido de intervenção Federal na segurança do Estado). Não bastasse tudo isso, o clima de insegurança que assola o Estado fez com que Deputados começassem a exigir sua exoneração e encontrassem eco, segundo noticiado pela imprensa, na iminência parda do Governo, o ex-Secretário de articulação política e pré-candidato a Deputado Federal Márcio Jerry, a pessoa mais próxima, na estrutura de Governo, do comandante comunista. Engana-se, contudo, quem imagina que esse enredo de cinema começou no declínio do atual Governo agora em 2018. A gênese de tudo está no final dos anos 80 e começo dos anos 90, quando Márcio Jerry, Flávio Dino, Jefferson Portela, Mário Macieira, Ana Maria Almeida Vieira (minha querida veterana), Edvar, Graça, Jorge Moreno e tantos outros lideres universitários lutavam pelo comando do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e do DA (Diretório Acadêmico) do Curso de Direito daquela Instituição. Entre o amor e o ódio do calor das disputas acadêmicas foram moldadas as relações que perduram até hoje dentro e fora das engrenagens do atual Governo. Entre o Anjo Pardo e o personagem Jerry existe o maior dos ciúmes: o de homem pelo Poder e pela proximidade do Líder.

Quem está por trás dos últimos acontecimentos somente o tempo dirá. Não acredito que o Anjo Pardo Maranhense seja o responsável por tudo o quanto lhe é imputado (pode ter seus defeitos, mas é um dedicado servidor público). Contudo, assim como o Negro, sua fidelidade e parceria de mais de 30 (trinta) anos poderá levá-lo a assumir a culpa, protegendo, assim, seu Lider e o Governo de um trágico desfecho.

Gregório Fortunato foi induzido por uma falsa publicação de jornal a assumir que tinha tomado conhecimento de que planejavam silenciar Carlos Lacerda. A notícia dizia que Benjamim Vargas, seu amigo e protetor Beijo, havia fugido e abandonado a todos. O Anjo Negro perdeu tudo, inclusive a vida na prisão. Abandonado pelos amigos da época de ouro das lutas universitárias e traído pelo ciúme da iminência parda do Governo, o que o destino reserva para o Anjo Pardo do Maranhão? Aguardem cenas dos próximos capítulos.
P.S.: após a publicação do texto uma fonte me informou que não existe cizânia no Governo. Disse que estão unidos e que o Anjo Pardo está sendo apoiado. Se for verdade, ponto para os comunistas que estariam ombreados com o Secretário, não o deixando só neste momento difícil. Seria o mínimo a se esperar.